domingo, 10 de março de 2013

Como andar deslizando no caminho das pedras


A primeira vez em que caminhei sobre pedras, eu não as conhecia, mas queria aprender a deslizar sobre elas sem me machucar. Estava descalça, ralei meus pés. A dor que senti nos dias que vieram, ensinaram-me a não caminhar sobre pedras, sem sapatos. 

Na segunda vez que andei num caminho de pedras, percebi que meus sapatos escorregavam e vários tombos levei. Meus pés estavam protegidos, mas meus joelhos ficaram feridos e meus cotovelos sangraram. Com a dor dos dias seguintes, aprendi que para caminhar sobre pedras, eu precisava proteger minhas pernas e meus braços, além de calçar-me adequadamente para esse fim. Assim, fiz. Usei roupas e calçados apropriados, quando fui caminhar novamente. Então, a cada tombo, eu procurava adaptar-me para o próximo passeio. 

Um dia, percebi que os tombos já não me machucavam, mas eu andava tão protegida que quase não conseguia me movimentar. A viagem já não tinha tanta graça e o peso de tanta proteção cansava-me. Quase não conseguia abaixar-me, não conseguia beber a água dos regatos, nem subir numa árvore para colher um fruto. Não haviam feridas, mas também não havia mais emoção em minha caminhada. 

Foi então, que arranquei toda a roupa protetora e, ao invés de aprender a me vestir, resolvi aprender a caminhar, prestando mais atenção nas pedras, nos buracos e nas armadilhas do caminho. Aprendi que as pedras não estavam ali somente como obstáculos; as maiores também serviam para eu me sentar, descansar, apreciar a paisagem, refletir e me alimentar. 

E, numa dessas reflexões, percebi que também havia vida e flores entre as pedras e entendi que o caminho de pedras não existia para eu aprender a deslizar. Haviam outros lugares mais apropriados para fazer isso. 

O caminho de pedras existia, enfim, para eu aprender a "caminhar" e, após aprender a fazê-lo nesse íngreme caminho, em nenhum outro eu iria, nem sequer, tropeçar.


Sueli Benko
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