A primeira vez em que caminhei sobre pedras, eu não as conhecia,
mas queria aprender a deslizar sobre elas sem me machucar. Estava descalça,
ralei meus pés. A dor que senti nos dias que vieram, ensinaram-me a não
caminhar sobre pedras, sem sapatos.
Na segunda vez que andei num caminho de
pedras, percebi que meus sapatos escorregavam e vários tombos levei. Meus pés
estavam protegidos, mas meus joelhos ficaram feridos e meus cotovelos
sangraram. Com a dor dos dias seguintes, aprendi que para caminhar sobre pedras,
eu precisava proteger minhas pernas e meus braços, além de calçar-me
adequadamente para esse fim. Assim, fiz. Usei roupas e calçados apropriados,
quando fui caminhar novamente. Então, a cada tombo, eu procurava adaptar-me
para o próximo passeio.
Um dia, percebi que os tombos já não me machucavam, mas
eu andava tão protegida que quase não conseguia me movimentar. A viagem já não
tinha tanta graça e o peso de tanta proteção cansava-me. Quase não conseguia
abaixar-me, não conseguia beber a água dos regatos, nem subir numa árvore para
colher um fruto. Não haviam feridas, mas também não havia mais emoção em minha
caminhada.
Foi então, que arranquei toda a roupa protetora e, ao invés de
aprender a me vestir, resolvi aprender a caminhar, prestando mais atenção nas
pedras, nos buracos e nas armadilhas do caminho. Aprendi que as pedras não
estavam ali somente como obstáculos; as maiores também serviam para eu me
sentar, descansar, apreciar a paisagem, refletir e me alimentar.
E, numa dessas
reflexões, percebi que também havia vida e flores entre as pedras e entendi que
o caminho de pedras não existia para eu aprender a deslizar. Haviam outros
lugares mais apropriados para fazer isso.
O caminho de pedras existia, enfim,
para eu aprender a "caminhar" e, após aprender a fazê-lo nesse
íngreme caminho, em nenhum outro eu iria, nem sequer, tropeçar.
Sueli Benko
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